Sofrimento o ano todo

Sofrimento o ano todo

Milhões de pessoas sofrem com alergias no mundo todo. O que os cientistas têm feito para conter esse inimigo invisível?

Magro e compenetrado, ele monta na bicicleta. Seus dedos compridos agarram com firmeza o guidão, e ele verifica se seu corpo está bem equilibrado. Hoje ele está resfriado, o que torna ainda mais escuros os círculos sob os seus olhos. Quando explica sua situação, ele escolhe com cuidado as palavras. “Não como muito, e só depois que minha mãe dá uma olhada na lista de ingredientes. Só assim posso comer. Antes de ela fazer isso, nem pensar.

Qual é o motivo de ele ser tão cuidadoso? Talvez seja a conseqüência de ter passado grande parte da infância tentando fazer que os médicos o entendessem enquanto se esforçava por respirar. O fato de saber que as coisas mais banais podem ser fatais…, bem, isso é mais que suficiente para tornar alguém cauteloso.

Cameron Liflander sofre de alergia, tal como mais de 50 milhões de americanos. Mas o problema dele não se resume aos olhos lacrimejantes ou à garganta irritada que costumamos associar a essa palavra. Aos 7 anos, o corpo de Cameron está travando uma guerra com o ambiente em que vive. E o grande temor de sua mãe é que o ambiente saia vencedor desse combate.

O bebê continuou a apresentar sintomas, mas seu crescimento era normal. Ela o amamentou por quase um ano e, aos poucos, passou a introduzir em sua dieta outros alimentos. Aí, um dia, ela lhe deu um pedaço de atum. Cameron ficou todo vermelho, inchou como uma esponja e começou a sufocar. Ele foi salvo por um medicamento chamado Benadryl, mas, no choque anafilático seguinte, Pamela teve de levá-lo às pressas ao pronto-socorro mais próximo de sua casa, que fica em Riverside, Connecticut. E, a partir de então, tais visitas se tornaram freqüentes.

O que é uma alergia?

Ocorre quando fungos e outras substâncias inofensivas irritam o sistema imunológico, que reconhece uma ameaça que não existe.

Exatamente quantas coisas podem provocar reação alérgica em uma criança? No decorrer dos anos seguintes, os Liflander viram-se obrigados a descobrir a resposta a essa questão da maneira mais arriscada possível.

Vamos supor que 54,3% de todos os cidadãos americanos tenham câncer. Esse percentual provavelmente desencadearia uma onda nacional de pânico – e uma desenfreada busca por algo nocivo na dieta, no ambiente, nos níveis de atividade… enfim, por qualquer fator relevante. Na realidade, esse é o percentual de americanos que exibem uma reação positiva na pele a um ou mais alérgenos (embora nem todos com resultado positivo tenham uma efetiva enfermidade alérgica, como rinite, asma ou eczema).

As manifestações de alergia – espirro, má respiração, coceira, brotoeja – são sinais de um descontrole do sistema imunológico, que passa a atacar elementos estranhos que normalmente não causam nenhum mal. Entre os alérgenos mais comuns estão pólen, ácaros, fungos, alimentos, látex, medicamentos, picadas de insetos – ou qualquer outra substância estranha contra a qual o corpo decide reagir exageradamente.

A asma é um dos maiores responsáveis por manter os alergologistas sempre abastecidos de pacientes. Essa inflamação crônica que provoca o estreitamento das vias respiratórias aflige cerca de 20 milhões de americanos, uma quantidade duas vezes maior do que há 20 anos. Cerca de 4 mil pessoas morrem de asma por ano nos Estados Unidos. Mas, em geral, alergias não são fatais. Elas só atormentam o paciente – às vezes, por um breve período, em outras, por toda a vida.

Os Estados Unidos não são o único país com altos índices de alergia. No Reino Unido, mais de 20% da população sofre com alergias ativas. A Nova Zelândia, a Austrália, a Irlanda e o Reino Unido apresentam as mais elevadas taxas de asma no mundo (no Brasil, 11% da população sofre do mal). Tal como a obesidade, as alergias são uma epidemia dos tempos modernos. À medida que os países se tornam mais industrializados, o percentual de pessoas afetadas tende a aumentar. Existem áreas remotas na América do Sul e na África, por exemplo, em que praticamente não se registram casos de alergia.

À primeira vista, o problema da alergia parece simples e, sem dúvida, para a maioria de nós a solução também é simples: basta tomar medicamentos como o Zyrtec ou o Atrovent para que os sintomas desapareçam.

Mas nem sempre as coisas são tão simples. Aqueles dentre nós que têm mais de 40 anos provavelmente não se lembram de jamais ter tido alguma conversa na escola sobre alergia a alimentos. Hoje, no entanto, 6% das crianças pequenas sofrem desse tipo de alergia – e a quantidade das que possuem a potencialmente fatal alergia ao amendoim duplicou no período de 1997 a 2002. Nas escolas americanas, crianças como Cameron sentam em mesas separadas na hora da merenda, e há sites e grupos de apoio a pais obrigados a educar em casa filhos que sofrem de formas mais graves de alergia.

O que acontece quando somos acometidos de uma alergia é o seguinte: um dia, nosso corpo é exposto a uma proteína presente em algo inofensivo – como na farinha de trigo de um bolo assado em casa. No entanto, por motivos ainda pouco claros, nosso corpo olha para a proteína e nela vê uma enorme ameaça. No início, não aparece nenhum sintoma, mas o corpo guarda aquilo em sua memória – e começa a se preparar.

Esse contato inicial com a proteína leva o sistema imunológico a produzir um anticorpo conhecido como IgE (imunoglobulina E). Em seguida, os anticorpos IgE se prendem a determinado tipo de célula, os mastócitos, em tecidos conjuntivos de todo o corpo. E ali permanecem como sentinelas atentas e prontas para o início das hostilidades. Quando ocorre um segundo contato, mesmo que meses depois, alguns dos alérgenos se ligam ao IgE nos mastócitos. E, dessa vez, o mastócito libera uma cascata de substâncias irritantes: histamina, prostaglandinas e leucotrienos, os quais causam inflamação, estimulam a extremidade dos nervos (o que provoca coceiras), afetam a pressão sanguínea e as contrações musculares e atuam nas glândulas que ativam a secreção de muco e a vasodilatação, a tal ponto que ficamos congestionados.

Uma reação leve pode tomar-se crônica se houver contatos repetidos com o alérgeno, ou quando entram em ação outras células associadas ao sistema imunológico, as células T. Determinadas células T lembram-se do “ataque” do alérgeno e garantem que alguma parte do corpo sempre fique inflamada. Com freqüência, os alérgenos e o sistema imunológico tornam-se mais e mais conflitantes, e os sintomas se agravam.

Às vezes, porém, sobretudo no caso de alergia a alimentos, esse processo não é nada gradativo. Foi o que aconteceu quando Cameron Liflander comeu um pouco de atum. Ele deve ter tido contato com o alérgeno pelo menos uma vez antes de o IgE vincular-se aos mastócitos e preparar-se para a reação, mas, assim que esta foi desencadeada por um contato subseqüente, ocorreu imediatamente um choque anafilático. Um teste realizado por um alergologista revelou que Cameron era extremamente alérgico a peixes, crustáceos, mostarda, gergelim, amendoim, castanhas, soja, cães, gatos, assim como a alguns antibióticos, pólen e ácaros. “Segundo o médico, Carmeron era sensível a um número maior de substâncias do que qualquer outra criança que ele conhecia”, comenta Pamela Liflander. Felizmente, nem todas as alergias de Cameron são fatais. Mas algumas são. Os pais cujos filhos não têm alergia tendem a achar que Pamela Liflander é excessivamente protetora. Esses pais jamais viram um filho quase morrer sufocado.

O Centro Nacional Judaico de Medicina e Pesquisa foi inaugurado em 1899, em Denver, como sanatório para atender a pacientes com tuberculose. Até hoje o hospital é especializado em doenças respiratórias e é um dos principais centros de pesquisa nos Estados Unidos para o tratamento de alergia e asma. Ali há quartos, nos quais as condições são perfeitamente controladas, onde os pacientes com alergias graves são expostos a “estímulos” específicos. Para algumas pessoas, basta que camarões sejam jogados em uma panela com água fervente ou que uma luva de látex seja sacudida para que os alérgenos liberados na atmosfera provoquem nelas uma crise anafilática. Uma das questões mais importantes investigadas nesse hospital é a seguinte: por que há atualmente uma epidemia de alergia?

Hoje não há mais dúvida quanto à existência de um componente hereditário nas alergias. Uma criança cujo pai ou mãe seja asmático tem grande probabilidade de vir a sofrer do mesmo mal. Se ambos os pais tiverem asma, essa probabilidade é ainda maior. E estudos comprovam que gêmeos idênticos têm asma com mais freqüência do que gêmeos fraternos.

Mesmo assim, a proliferação de alergias é rápida demais para ser explicada apenas por meio da genética. “O estoque de genes não pode mudar tanto num período tão pequeno”, comenta Donald Y. Leung, diretor da divisão de alergo-imunologia pediátrica do hospital e também editor-chefe do Journal of Allergy and Clinical Immunology. “Também precisamos levar em conta fatores ambientais e comportamentais.”

Outra causa provável: a alimentação. “O baixo consumo de frutas e verduras frescas, o abuso de alimentos processados e a ingestão insuficiente de antioxidantes e alguns minerais – já se comprovou que todos esses são fatores de risco”, diz Harold Nelson, um professor de medicina no Centro Nacional Judaico que é considerado um dos maiores especialistas em alergia e imunologia.

O uso de antibióticos também pode ter contribuído para a proliferação de alergias. Determinadas bactérias no intestino estão associadas a uma probabilidade maior ou menor de desenvolver reações alérgicas. Os pesquisadores acreditam, como explica Donald Leung, que “o uso excessivo de antibióticos talvez seja prejudicial a certa flora intestinal que impede as reações alérgicas”.

Outro culpado importante é a poluição ambiental. Mas há uma acalorada discussão sobre quais seriam essas substâncias poluentes e em que quantidade desencadeiam o processo alérgico. Um exemplo entre dezenas: estudos epidemiológicos revelam que as crianças que crescem junto a rodovias movimentadas e ficam expostas à fumaça de motores a diesel apresentam maior sensibilidade aos alérgenos que já as afetavam.

Ironicamente, não somos afetados apenas por substâncias poluentes. O mesmo ocorre com o excesso de limpeza – ou melhor, com certo tipo de limpeza. Uma das teorias aceitas por alergologistas é conhecida como a “hipótese da higiene’”. Embora não seja simples nem desprovida de contradições, essa teoria baseia-se na seguinte idéia: se os Liflander quisessem prevenir as alergias de Cameron, deveriam ter colocado uma vaca na sala de estar. Afinal, as pessoas que vivem em sítios e fazendas, em contato permanente com animais, raramente têm alergia.

“A hipótese da higiene vem sendo considerada desde que as alergias começaram a ser estudadas”, comenta Andrew Liu, professor associado de alergia pediátrica e imunologia clínica no Centro Nacional Judaico. “John Bostock, que foi o primeiro a identificar a febre do feno, observou que essa era uma enfermidade das elites, pois não encontrou nenhum caso entre os mais pobres.”

Segundo os adeptos dessa teoria, ainda que tenha possibilitado melhor atendimento médico e reduzido as infecções infantis mais graves, a industrialização disseminou uma obsessão pela limpeza. Quando bebês, não somos expostos à sujeira o suficiente para exercitar nossos sistemas imunológicos. Além disso, devido ao custo elevado da energia, as casas passaram a ser construídas com materiais isolantes que preservam a temperatura interna com mais eficiência, mas ao mesmo tempo impedem a dispersão de fungos e poeira, os grandes inimigos dos alérgicos.

Todavia, se a sujeira é uma coisa boa, por que a alergia e a asma são tão comuns nas áreas pobres dos centros urbanos? “A redução das alergias não se dá pelo contato com qualquer tipo de sujeira – é preciso que esta seja de determinado tipo”, diz Liu. “Estamos falando de uma exposição a endotoxinas e micróbios bons que se encontram no solo e em excrementos de animais.”

Inúmeras pesquisas comprovam a validade da hipótese da higiene. “Houve um estudo famoso”, conta Harold Nelson, do Centro Nacional Judaico, “em que um dos fatores que protegiam da asma era a presença de um porco na casa.

Seria ótimo se imunologistas e epidemiologistas pudessem isolar e identificar todos os fatores que contribuem para a escalada das alergias e, em cada caso, exclamar: “Eis o culpado!” Mas isso provavelmente não vai acontecer. Em vez disso, os pesquisadores são obrigados a examinar o problema sob todos os ângulos possíveis. E qual é a atitude implícita deles? A de que alteramos demais as condições deste planeta e talvez não possamos mais recuperar o equilíbrio ambiental. Por isso, o máximo que a ciência pode fazer é nos ajudar a recuperar o equilíbrio de nosso corpo.

Como a maioria de nós é incapaz de dividir a casa com um porco, temos de encontrar outra solução. Podemos evitar completamente as alergias? Podemos nos livrar das alergias que já temos? É possível reduzir a sensibilidade de nossos sistemas imunológicos? “Ainda não sabemos exatamente como impedir as reações alérgicas”, diz Andrew Liu. “Sabemos que a reação imunológica é supostamente algo útil, e que não deveria ser a causa de enfermidades. Sabemos que o sistema imunológico de alguém com alergia precisa ser reeducado. Mas como fazer isso é o problema.”

Os avanços na imunoterapia vem sendo obtidos a duras penas. A idéia geral por trás da imunoterapia é fazer com que as células T reajam de outro modo ao alérgeno – ou seja, sem sintomas alérgicos – quando este é reintroduzido no organismo. Atualmente, o melhor método é o da aplicação semanal de injeções com quantidades cada vez maiores da substância alergênica ao longo de um período de três a cinco anos. “É algo que requer tempo, investimento e dinheiro”, comenta Harold Nelson.

No Centro de Asma e Alergia da Faculdade de Medicina Johns Hopkins, o diretor clínico Peter Socrates Creticos vem pesquisando o que é, em última análise, uma vacina contra a ambrósia, planta que produz um pólen muito alergênico. A vacina contém tanto o principal alérgeno ativo como fragmentos de DNA. Este atua como coadjuvante que permite ao corpo reconhecer o alérgeno de modo eficiente e desencadear uma série de reações celulares no sistema imunológico que interrompem a inflamação crônica.

“O melhor”, diz Creticos, “é que, com apenas seis semanas de injeções no período anterior à temporada das ambrósias, as pessoas registraram redução de 70% nos sintomas. Esta é taxa de melhora que normalmente terapias anteriores só alcançavam após três anos”. Além disso, os efeitos da vacina ainda se fizeram sentir na temporada de ambrósias do ano seguinte. “Amenizamos os sintomas”, diz Creticos, “e eliminamos a doença.”

Também vêm sendo testados alguns medicamentos que atuam segundo um princípio diferente. Um deles é o Xolair, cuja injeção, uma vez por mês, absorve a IgE como uma esponja, impedindo que ela se encaixe nos receptores dos mastócitos e desencadeie reação alérgica. Não proporciona cura para as formas mais graves de alergia, e cada injeção custa mais de mil reais.

Greg Rogers, um empreiteiro de obras aposentado, participou do teste de um medicamento similar no Centro Nacional Judaico. “Antes desse tratamento”, conta ele, “eu teria de ser levado às pressas para um hospital se comesse metade de um amendoim. Agora posso até comer nove ou dez deles e ainda sobreviver.”

Não que Rogers esteja louco para comer nove amendoins, ou mesmo um, mas, com a elevação do limiar de sua tolerância, ele não irá morrer após uma ingestão acidental.

E quanto à possibilidade de prevenir as alergias? A maior esperança talvez esteja nos estudos sobre o que os imunologistas chamam de “marcha atópica”. Dois terços das crianças com dermatite atópica, ou eczema, ficarão suscetíveis à febre do feno, e metade delas terá asma. Com freqüência, para os muito alérgicos, como Cameron Liflander, a dermatite atópica é apenas a primeira escala na longa marcha de outras alergias.

Na pele da maioria das pessoas existem protetores antimicrobianos, os quais funcionam como uma primeira linha de defesa contra microorganismos invasores. Já nos portadores de dermatite atópica, tais protetores são escassos ou inexistentes e, em conseqüência, cerca de 90% apresentam Staphylococcus aureus na pele. Segundo especialistas, o estafilococo prepara o sistema imunológico para uma vida de alergias, que começam com as brotoejas e vão piorando até o estreitamento das vias respiratórias. “Assim, no fundo, a pele funciona como um portal – é através dela que os alérgenos são rapidamente absorvidos”, diz Donald Leung. “Nossa idéia é que, se conseguirmos recuperar o mais rápido possível a integridade da pele rachada e inflamada, seremos capazes de interromper a inevitável progressão de alergias.”

O Centro Nacional Judaico realizou uma pesquisa de cinco anos com mais de mil crianças portadoras de dermatite atópica com o objetivo de constatar se o tratamento rápido impede o avanço das alergias. O hospital está comparando os tradicionais cremes com esteróides, que no longo prazo apresentam desagradáveis efeitos colaterais, com um creme sem esteróides chamado Elidel. Este inibe a molécula calcineurina, um dos principais ativadores iniciais das células T que orquestram a reação alérgica.

Para um menino como Tyler Mason, o resultado dessa pesquisa poderá afetar dramaticamente sua vida. Tal como todas as crianças internadas no Centro Nacional Judaico, Tyler tem um eczema que não se restringe a manchas vermelhas na pele descamada e pruriginosa. A pele de Tyler foi completamente destroçada. Ele contraiu uma infecção por estafilococo que o levou ao hospital, e quem quiser visitá-lo no quarto é obrigado a passar por uma rigorosa desinfecção. O próprio Tyler passou por diversos banhos, foi besuntado da cabeça aos pés com creme umedecedor e depois com outro creme dotado de esteróides contra a inflamação da pele; por fim, foi todo enrolado em ataduras, como uma múmia, que lhe deixaram descobertos apenas os olhos.

Vickie, a mãe de Tyler, tem uma foto que mostra o estado dele quando chegou ao Centro

Nacional Judaico: ele mais parecia um pedaço de carne viva do que um ser humano. Após 48 horas de tratamento, Tyler já lembrava um menino de rosto vermelho sofrendo de eczema.

Há ainda outra maneira para interromper a marcha atópica: fazer com que as crianças consumam “probióticos”, ou seja, bactérias benéficas, como o Lactobacillus encontrado em alguns iogurtes. De acordo com estudos, essas bactérias são raras nos intestinos daqueles vulneráveis às alergias. Em um experimento realizado na cidade de Perth, na Austrália, crianças com eczema crônico receberam probióticos e apresentaram melhora significativa dois meses após concluírem as oito semanas do tratamento.

Atualmente, Cameron Liflander diz que se sente bem na maior parte do tempo. Mas não é nada fácil mantê-lo nesse estado. Para a asma, toma todos os dias um coquetel com medicamentos com e sem esteróides: Proventil e Flovent em seu inalador, e Nasonex no spray nasal. Para o eczema, usa o anti-histamínico Zyrtec e um creme com esteróides de aplicação tópica. Os esteróides não parecem ter prejudicado seu crescimento – um dos efeitos colaterais mais preocupantes no uso continuado de esteróides por crianças -, e ele adaptou-se bem ao anti-histamínjco, de modo que nem sempre se sente sonolento.

O futuro parece mais promissor para Cameron. Alguns dos testes para comprovar sua sensibilidade a alérgenos foram refeitos. A reação a determinadas substâncias vem se modificando à medida que passam os anos: agora, por exemplo, ele apresenta maior tolerância à soja (o que é um grande alivio, pois ela é encontrada em uma enorme quantidade de produtos). Ele também começou a receber injeções para amenizar sua reação às substâncias ambientais, e sua mãe tem esperança de que logo Cameron seja capaz de viver sem a dose diária de esteróides.

Ainda assim, a ampla casa dos Liflander tem piso de madeira e lajotas em vez de tapetes, a fim de impedir o surgimento de fungos, e não há nada nas janelas que facilite o acúmulo de poeira. Em sua escola, professores, amigos e funcionários ajudam a manter Cameron longe de tudo que contenha amendoim. E Pamela está sempre atenta aos locais em que ele brinca. “Tem de haver por perto alguém que saiba lidar com uma reação alérgica. Ao mesmo tempo, nos esforçamos para não mantê-lo em uma bolha de plástico.”

O aumento na quantidade de pessoas que sofrem de alergias está mudando o modo como vivemos e o que compramos. De repente, há uma demanda crescente por produtos e serviços que seriam inimagináveis 30 anos atrás. Hoje existem hotéis que oferecem quartos com sistemas especiais de ventilação e roupas de cama lavadas com produtos atóxicos. E há arquitetos, como Roy Prince, de Santa Barbara, na Califórnia, que se especializaram em “casas saudáveis”. “Aqui em Santa Barbara, calculo que o número de pessoas interessadas em viver em casas ‘verdes’, não tóxicas e ecologicamente corretas simplesmente dobrou nos últimos anos”, diz Prince.

Girassóis que não produzem pólen, cultivados inicialmente para arranjos florais que não sujassem toalhas de mesa ou roupas com uma poeira amarelada, agora são vendidos para pessoas que sofrem de alergia. O mesmo ocorre, também, com certas raças de cães: bichon-hava-nês e coton-de-tulear – pequenas bolas peludas. As raças “hipoalergênicas” mais conhecidas incluem o wheaten terrier, o poodle e o cachorro de água português. (Na verdade, nenhum cão ou gato provoca reações alérgicas. A caspa, a saliva e a urina é que são alergênicos, e não o pêlo.)

Mais importante, os cientistas estão descobrindo maneiras de eliminar as proteínas alergênicas dos produtos mais comuns. Na Universidade de Melbourne, na Austrália, pesquisadores alegam ter desenvolvido, por meio da desativação de genes, a primeira erva-joeira hipoalergência, ou seja, que não provoca a febre do feno. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos aperfeiçoou uma variedade de soja que não possui a principal proteína alergênica que chegou a causar tanto sofrimento para Cameron. E os cientistas estão cruzando os tipos existentes de amendoim que possuem níveis mais baixos daquelas proteínas que provocam choque anafilático.

Com tudo isso, Cameron Liflander e outras pessoas afetadas por alergias poderão um dia viver em um mundo bem mais confortável. Mas permanece uma questão: qual é o limite de toda essa engenharia genética? E, mesmo se pudermos eliminar todos os alérgenos que hoje nos atormentam, quais serão os próximos inimigos escolhidos por nossos sistemas imunológicos?

FONTE: National Geographic

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