É tempo de Festa Junina e um alimento que não pode faltar é o pinhão. Essa legítima semente brasileira se tornou uma das melhores companhias para os dias frios do ano. Apreciado por muitos, ela contém uma mistura de ingredientes que dão o clima das festas juninas além de saciar a fome e trazer muitos benefícios para todo o corpo.
O pinhão fornece energia na forma de carboidratos, fibras, minerais e fenólicos que são defensores das nossas células. Essa castanha ganhou espaço na cozinha sendo hoje um ingrediente para o preparo tanto de doces como de salgados.
Porém a maneira mais tradicional de consumir o pinhão é puro, cozido ou assado na famosa “sapecada”, ou seja, quando a semente é torrada em meio aos ramos secos da Araucária. As tribos indígenas e os tropeiros já eram grandes fãs dessa cômoda e prática forma de preparo.
No inverno a fogueira, a música, o pinhão e as bebidas quentes costumam juntar famílias e amigos até hoje no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerias, sendo que nesses dois últimos a concentração de Araucárias é muito pequena.
Segundo o Engenheiro-Agrônomo Flávio Zanette, professor da UFPR, existem relatos indicando a ocorrência dessas árvores em uma faixa que começava na Bahia e se estendia até o sul do país. “A espécie pode ser considerada um fóssil vivo, já que existe há milhões de anos e resistiu até mesmo à era glacial” afirma.
A Araucária sobreviveu a tantas intempéries, só não contava com a exploração humana que cobiçou sua madeira de altíssima qualidade e a colocou à beira da extinção. Dados da Embrapa Florestas sustentam que as matas de Araucária cobriam perto de 185 mil quilômetros quadrados antes da colonização e hoje restam apenas 2% dessas florestas.
Hoje em dia podemos contar com algumas leis que impedem o corte da árvore. Já a comercialização das sementes somente pode ocorrer entre os meses de abril a julho. Também existem iniciativas como o projeto “Estradas com Araucárias” que oferece incentivo financeiro para o plantio das Araucárias em divisas de propriedades rurais e que já contabiliza mais de 20 mil novas árvores em 70 propriedades de Santa Catarina.
Outra iniciativa é a BFN (Biodiversidade para Alimentação e Nutrição) que reúne instituições internacionais, governos e estudiosos para promover o uso sustentável ampliando o consumo de alimentos nativos. Hoje o pinhão é fonte de renda para muitas famílias contribuindo com mais de R$ 15 milhões para o Valor Bruto da Produção Agropecuária do Estado. Somente na cidade de Rio Branco do Sul, no Paraná, uma cooperativa de matérias primas agrícolas reúne 100 famílias de produtores que testam uma nova forma de comercialização do pinhão, pré-cozido, descascado e embalado a vácuo.
Esse ano a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná estima um aumento de 40% na produção em comparação ao ano anterior.
Semente, castanha ou fruto?
O pinhão é de fato a semente da Araucária, uma árvore que não produz frutos. A Araucária fêmea produz a flor que abre normalmente em setembro. Essa flor recebe o pólen da Araucária macho e em seguida vai se desenvolvendo até formar a pinha que amadurece e libera o pinhão. O processo de amadurecimento do pinhão pode durar até três anos e cada pinha pode liberar mais de cem sementes explica o pesquisador da Embrapa Florestas Ivar Wendling.
A castanha, que é a parte interior da semente da Araucária, é um super alimento com baixo teor de gordura e sódio. É uma excelente fonte de energia e pode ser consumida por qualquer faixa etária. O pinhão ainda é capaz de acelerar o metabolismo e diminuir o colesterol segundo estudos. Ele também tem muitas fibras que ajudam na digestão, proteínas, minerais e não possui glúten, podendo ser incorporado em qualquer receita sem alterar significativamente o sabor da comida.
A semente tem menos calorias do que outros tipos de nozes, castanhas ou amêndoas. Segundo a química e cientista de alimentos da Embrapa Cristiane Helm, “Um dos destaques do pinhão é o amido resistente, um carboidrato especial capaz de retardar a digestão e segurar a fome. Ao ser cozido com água, seus grânulos se enchem de líquido e formam uma espécie de gel, o que garante maciez ao alimento aumentando a saciedade. Diferente do tipo simples, digerido em 20 minutos, esse amido resistente pode levar até duas horas para ser processado e ainda fermentado no intestino, numa atuação que equilibra a composição da microbiota ajudando também contra a constipação” esmiúça Cristiane.
Soma-se a essa singularidade um conjunto de fibras solúveis e insolúveis que potencializam seus efeitos no sistema digestivo. É graças a essa fórmula que o pinhão tem aparecido em pesquisas como aliado no controle da glicemia, contribuindo para afastar o diabetes facilitando a vida de quem convive com ele. A semente ainda tem gorduras do tipo Ômega-9, ferro, fósforo, cálcio, manganês, potássio e antioxidantes.
Outro fenômeno curioso e bem-vindo é quando o pinhão vai à panela. Durante o cozimento alguns minerais e outras substâncias benéficas migram da casca para o interior da semente, por isso a polpa branca adquire tons marrons. O tom denuncia a presença de compostos de fenólicos que são incorporados durante o processo de cozimento.
Essas substâncias tem ação antioxidante e blindam células, artérias e DNA dos danos provocados pelos radicais livres, moléculas que surgem naturalmente e, em excesso, causam danos ao nosso organismo. A água em que foi cozinhado o pinhão pode ser inclusive reaproveitada em caldos e até mesmo no preparo do arroz.
Não à toa o pinhão tem uma forte conexão com tribos indígenas que até hoje dependem do alimento para manter a dieta local, como os aborígenes da Austrália, os Pehuenches no Chile e no Brasil os Guaranis, os povos Macro Jê, os Kaingangs e os Xoklengs.
Ainda segundo o especialista, muito se dá ao fato de o alimento estar disponível no inverno. “Na natureza pouquíssimas árvores produzem alimentos no inverno, normalmente é sempre em épocas mais quentes. O pinhão fica maduro exatamente no período mais frio do ano, o que ajuda os indígenas e outros animais a garantir o alimento nesses meses” finaliza Ivar Wendling.
Curiosidade:
Para os amantes da semente a dica é armazenar em um saco fechado dentro da geladeira, a validade chega a 30 dias. Já congelado junto com água o pinhão pode durar até três anos.
Colaboração: Silvio José Schorrecke Gonçalves – Auxiliar de comunicação.
Fonte de pesquisa: Veja Saúde / O Eco / G1 / Acervo Digital da UFPR / Tribuna do PR / Folha de Londrina / Embrapa Florestas / Tabela Brasileira de Composição de Alimentos / IAPAR – EMATER
Crédito da Foto: CC Search by Araucárias da Resistência licensed under CC BY-NC-SA 2.0