O sono do seu filho

O sono do seu filho

Colocar crianças na cama está sendo um pesadelo? Você se arrepia só de pensar em enfrentar as mil desculpas que surgem na hora de dormir? Entenda o que mudar na rotina para que toda a família possa ter uma boa noite de sono.

cf271_mat_capa_03_copy

AMBIENTE

Tudo começa com a preparação de um ambiente que contribua com o relaxamento. Televisão com som alto, agitação e barulho de conversa só fazem a criança querer participar da bagunça. Portanto, tranquilidade é a palavra-chave. A casa deve se silenciar e a intensidade das luzes precisa diminuir conforme a hora de ir para a cama se aproxima. Mantenha o quarto escuro. Caso o seu filho tenha medo, acenda uma lâmpada de tomada ou um abajur com luz fraca (a de cor azul, segundo os médicos, pode ser uma boa opção para pegar no sono).

BANHO

Quem não gosta de um bom banho antes de deitar? Para as crianças isso também vale. O hábito pode fazer parte da rotina de sono porque o simples fato de interagir com a água ajuda a relaxar. “No inverno, tem que tomar cuidado para o corpo da criança não esfriar durante a troca. Vale antecipar um pouco a hora do banho para o fim da tarde ou ligar um aquecedor caso a temperatura do ambiente esteja muito baixa”, explica a pediatra Wylma Hossaka, da Beneficência Portuguesa (SP).

COLO

“O bebê ficou nove meses no útero materno, que é aconchegante. Por isso, logo que nasce, não entende que deve dormir em um berço onde se sente desamparado. É uma transição. A mãe tem que sentir os momentos em que pode ir experimentando o berço de forma tranquila”, comenta Deborah Moss, neuropsicóloga e consultora de sono infantil (SP). Aos poucos, o bebê precisa aprender a pegar no sono sem ser embalado para não depender sempre do colo.

DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS

O uso de televisão, smartphone, tablet ou computador deve ser evitado uma hora antes de ir para a cama. “A luz das telas interfere na liberação do hormônio do sono. Além disso, jogos e desenhos podem ser estimulantes e mantê-lo acordado”, explica Simone Chaves Fagondes, presidente do Departamento Científico de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatra (SBP).

EXERCÍCIOS

Crianças que brincam e fazem atividades físicas durante o dia costumam dormir mais e melhor à noite. Um estudo da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) descobriu que aquelas que se exercitam caem no sono bem antes do que as sedentárias. Mas atenção ao horário! De acordo com os médicos, a atividade deve ser realizada no máximo até as 18 horas. Depois disso, pode haver o efeito contrário, já que o exercício é estimulante.

FRIO

Para dormir numa boa, o clima no quarto da criança deve estar agradável – nem frio nem quente demais. Ao vestir o pijama no bebê, pense que ele deve usar uma camada de roupa a mais do que o adulto. Lembre-se de nunca colocar a coberta muito perto da cabeça para não sufocar (o ideal é posicioná-la embaixo dos bracinhos da criança). Uma alternativa segura para os bebês e recomendada pelos pediatras é o uso de saquinhos de dormir, que evitam a asfixia.

GATO, CACHORRO…

Quem nunca assistiu na internet a um daqueles vídeos fofos em que a criança dorme tranquilamente ao lado de um gato ou cachorro? Mas, afinal, pode ou não pode? A resposta dos médicos é unânime: não. Ainda que o convívio com bichos de estimação faça muito bem para o desenvolvimento infantil, isso não significa que eles devam dividir a cama ou o berço com a criança. Os animais, por mais limpos que aparentem ser, trazem no corpo micro-organismos que podem causar alergias e infecções diversas.

HISTÓRIAS

Contar histórias (seja lendo um livro ou inventando a narrativa) é muito positivo para o desenvolvimento cognitivo e contribui com a formação de vínculo entre os cuidadores e a criança. Antes de dormir, o hábito também acalma e prepara para o sono. “Além de ser prazerosa, a prática estimula o gosto pela leitura. Sempre recomendo que a criança ainda esteja acordada quando a narrativa acabar. Se ela dormir no meio da história, pode ser que, caso  acorde no meio da noite, fique assustada procurando pelos pais e os chame para descobrir o fim do enredo”, relata a neuropsicóloga Debora Moss.

INSÔNIA

Na infância, a insônia é diferente daquela que os adultos têm. Entre as crianças, a questão é mais comportamental, ou seja, está relacionada com o fato de acordar no meio da noite, não saber pegar no sono sozinha ou fazer birra como forma de prorrogar o horário de dormir. “O mais comum é a dificuldade de adormecer e se manter dormindo. Isso costuma acontecer quando a criança dorme na cama dos pais, na cadeirinha do carro ou no colo, por exemplo. Então, ao acordar à noite sozinha, ela se assusta e não consegue voltar a dormir porque não encontra a mesma situação em que está habituada a pegar no sono”, ensina a pediatra Simone Fagundes, da SBP.

JANTAR

A refeição da noite deve acontecer cerca de duas horas antes de a criança se deitar, para evitar mal-estar. O prato precisa ser saudável e balanceado – evite os alimentos gordurosos e pesados como pizza, fritura e lanches (que além de tudo não são saudáveis!). A combinação de arroz, feijão, legumes cozidos e uma fonte de proteína costuma ser uma boa escolha pela fácil digestão, assim como as sopas.

KIT BERÇO

Muitos acham que as almofadas decorativas que cercam o berço oferecem conforto e segurança, mas é o contrário. Como o bebê não tem os mesmos reflexos de um adulto, ele pode encostar a face na almofada e morrer por sufocamento. Por esse motivo, a recomendação oficial dos pediatras é que a criança durma em uma superfície plana e livre, para conseguir  respirar. Paninhos, bichos de pelúcia, travesseiros e almofadas são altamente desaconselháveis.

LEITE

Tudo bem oferecer leite um tempo após o jantar, antes de a criança dormir. Mas cuidado para não extrapolar o volume que ela está acostumada a tomar normalmente. Sempre que possível, espere o bebê arrotar para diminuir o risco de regurgitar durante o sono. E nada de engrossar a mamadeira com farinhas. Açúcar e achocolatado também são proibidos pelos pediatras. Além de não serem saudáveis e contribuírem para a obesidade infantil, esses aditivos deixam a criança desperta, pois dão energia. Cuide sempre de fazer a higiene bucal para evitar o aparecimento de cáries.

MÚSICA

Cantar antes de a criança dormir, quando ela já está na cama, pode fazer parte de uma rotina saudável do sono. Outra opção relaxante é cantar enquanto faz uma massagem no bebê após o banho. Em todo caso, assegure-se de parar enquanto a criança ainda está acordada. Assim, ela não irá se assustar caso desperte à noite e não ouça sua voz. Música clássica também pode ser usada para acalmar as mais ansiosas. Alguns pediatras, no entanto, afirmam que não é necessário recorrer a esse tipo de artifício. Fica a critério da família.

NOITE PELO DIA

Muitos pais se queixam que o bebê recém-nascido não dorme a noite inteira. É assim mesmo: nos três primeiros meses, os padrões de sono-vigília ainda estão se acertando. No sexto mês, o sono costuma estar mais concentrado durante a noite. “Quando a troca acontece com crianças maiores, pode ser que ela durma mal durante a noite e tente compensar de dia, e aí vira uma bola de neve. É preciso estabelecer uma rotina”, explica Debora Moss.

OLHOS SEMIABERTOS

Sabe quando a pálpebra não fecha completamente e dá para ver uma frestinha do olho durante o sono? Não precisa se preocupar, porque isso é comum e não afeta o descanso da criança. “Isso pode desidratar um pouco o olho, então os pais podem completar a oclusão”, aconselha a  pediatra Wylma.

POSIÇÃO

É quase impossível a criança acordar na mesma posição em que dormiu. Especialmente as maiores costumam se movimentar muito durante a noite. Mas, para os bebês, os pediatras têm uma recomendação clara: dormir de barriga para cima é o melhor em termos de segurança. De lado, a capacidade respiratória fica comprometida. Colocar de bruços é a pior escolha, pois a criança fica vulnerável a engasgar caso regurgite e aumentam as chances de morte súbita. Caso seu bebê se vire, o ideal é reposicioná-lo da maneira correta para minimizar os riscos. Vale
lembrar que o colchão do berço pode ser inclinado em até 40 graus para evitar regurgitações.

QUARTO

Deixar seu filho ajudar na escolha de roupa de cama e dos acessórios de decoração pode ser um incentivo a mais para gostar de dormir – além de contribuir com a transição do berço para a cama. Mas o fundamental mesmo são as condições de conservação: o quarto deve ser livre de poeira, ácaros e mofo, que podem prejudicar a respiração e, consequentemente, o sono. Outra dica válida, da Academia Americana de Pediatria, é que o cômodo não tenha TV. A medida ajuda a criança a dormir mais e melhor.

ROTINA

Ela é fundamental para a criança dormir bem. O seu filho deve saber que ele e toda a família têm hora para ir para a cama e para levantar. Cabe aos pais estabelecer isso. Mas a rotina vai além do relógio: ela também engloba a repetição de hábitos positivos, como um jantar apropriado e interações relaxantes antes de dormir (contar histórias, conversar sobre o dia da criança etc.).

SONAMBULISMO

Trata-se de um transtorno do despertar frequente entre as crianças e costuma ser hereditário.  Pesquisas mostram que se um dos pais já teve episódios de sonambulismo, a chance de que o filho tenha é grande. Quando ambos os pais apresentam o histórico, então aumenta mais ainda o risco de que a criança também desenvolva o transtorno. Apesar de poder assustar os pais, o sonambulismo não traz grandes problemas e tende a diminuir conforme a criança cresce. O que mais preocupa é o risco de quedas e machucados que podem acontecer enquanto ela anda pela casa. Como não está consciente, tudo oferece potencial risco. É por isso que os médicos  recomendam trancar portas e colocar grades ou redes nas janelas como medida de segurança.

TERROR NOTURNO

Esse transtorno do despertar é bem diferente do pesadelo, que não passa de um sonho ruim. A criança que tem terror noturno se senta na cama no meio da noite enquanto grita, chora e diz coisas incompreensíveis. Os batimentos cardíacos se aceleram e respiração fica ofegante. Parece assustador, não? É daí que vem o nome. Mas pode ficar tranquilo. Apesar de a situação impressionar os pais, a criança não costuma se lembrar de nada, pois não está consciente no episódio. A recomendação é acolher o seu filho sem acordá-lo, até que ele se deite novamente. Segundo o Instituto Brasileiro do Sono, 3% das crianças têm terror noturno em algum momento da vida, principalmente entre 5 e 7 anos.

ÚTERO

Se as cólicas e os desconfortos dos primeiros meses de vida estão tirando o sono do seu recém-nascido, talvez ele precise lembrar do aconchego que havia no útero materno. Nesses casos, é válido tentar um método simples e embasado em evidências científicas: quando o bebê estiver com dor, use um balde com água morna para fazer um tipo de ofurô e coloque-o lá dentro. Segure a cabeça dele para fora de forma segura. O objetivo é criar um ambiente parecido com a vida intraúterina. A sensação será parecida com a bolsa cheia de líquido amniótico e o fará relaxar. Enquanto o seu filho curte o ofurô, converse suavemente, da mesma forma que fazia quando ele ainda estava na barriga.

VIAGEM

Tente manter a rotina e nada de ir para a cama tarde demais. Se no destino não tiver berço, leve um portátil (certificado pelo Inmetro). Para as crianças maiores que já usam cama, é suficiente levar uma manta, travesseiro ou naninha, para que ela tenha algo familiar caso estranhe o ambiente. No carro, seu filho nunca pode dormir deitado no banco – há risco de se ferir nas frenagens. Deixe-o na cadeirinha e apoie o pescoço em um travesseiro. Em aviões, bebês de até 10 quilos podem dormir em berços oferecidos pela companhia aérea (cheque a  disponibilidade do serviço com antecedência).

XIXI

Apesar de atrapalhar o sono (porque a criança acaba acordando), o escape noturno é comum e não traz maiores problemas. Para evitar a situação, respeite a fisiologia de seu filho e não antecipe etapas. “A criança tem até três ou quatro anos para fazer o desfralde noturno. É preciso observar se ela está madura. O processo só pode acontecer quando o desfralde do dia está bem sedimentado”, afirma Farias. Se o xixi escapar, não brigue com a criança. Isso pode complicar a situação. Caso persista além dos 6 anos, procure a opinião de um pediatra.

Y OU X

Se você acha que o sexo da criança faz ela ser mais ou menos dorminhoca, saiba que está enganado. Os cromossomos sexuais (X e Y) não estão relacionados às horas de descanso. O que manda é a idade. Conforme ela cresce, precisa de menos tempo de sono por dia. Confira a tabela de tempo de sono recomendado pela organização americana National Sleep Foundation para um período de 24 horas:

tabela

Relaxe e curta uma boa noite de sono você também!

Fonte: Revista Crescer.

plugins premium WordPress