Tributo a um pai gigante
Como se mede a estatura de um pai?
Com uma régua de dois metros?
Meu pai media alguns centímetros,
talvez quatro ou cinco, além de um metro e meio,
mas tenho certeza de que
era um gigante que se debruçava
à noite, em minha cama, para ajeitar
o cobertor e me dar o beijo do soninho.
Também era um gigante
que me acordava todas as manhãs
para a escola
com o beijo da preguicinha.
Uma vez escorreguei de um plátano,
e além de rasgar todo o vestido,
rasguei também as pernas, os braços
e as mãos.
Corri para a farmácia do meu pai,
e ele pacientemente fez os curativos.
Entre soluços, eu disse: ”nunca mais
subo em árvore”,
ele me respondeu: ”não diz bobagem,
se não subires nunca vais aprender
a descer”.
Quando chovia muito e as calçadas
alagavam,
meu pai fazia uma frota de barcos
de papel, e nós dois lançávamos
os barcos ao mar e ao mesmo tempo
corríamos para tentar salvá-los do
naufrágio irremediável.
Nos últimos anos de sua vida breve
dedicou-se à pesquisa da cura do câncer.
”A ciência é o pão do homem”, repetia
incansavelmente, ”e o legado de um pai
se mede pelo saber dos filhos”.
Quando as pessoas olham suas fotos
nos dias atuais e dizem:
“Como ele era baixinho!”
eu sinto muita pena dessas pessoas
que não tiveram a sorte que eu tive
de ser filha de meu pai gigante.
Hoje quero agradecer ao meu pai seu
legado de amor e confessar-lhe que
ele é grande demais para uma régua
de dois metros.
por Thaís Weigert