Água de oito em cada dez municípios do Paraná apresenta “coquetel” de agrotóxicos

Água de oito em cada dez municípios do Paraná apresenta “coquetel” de agrotóxicos

Em cada oito de dez municípios paranaenses, os cidadãos, ao consumirem água, acabam ingerindo um verdadeiro coquetel de agrotóxicos. É o que revela uma investigação feita com base em dados do Ministério da Saúde, os quais apontam que em 326 das 399 cidades do Paraná (81,7% do total) foi testado positivo, entre 2014 e 2017, a presença de 27 pesticidas que as empresas de abastecimento são obrigadas a testar. Entre esses municípios, inclusive, aparece Curitiba.

A investigação, feita em conjunto por Repórter Brasil, Agência Pública e Public Eye, teve como base os dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua). E os paranaenses aparecem no levantamento como os segundos que mais beberam esse coquetel nos últimos anos, atrás apenas de São Paulo — em 504 municípios paulistas (78,1% de todas as cidades) foi identificada a presença de todos os 27 agrotóxicos.

Mais alarmante ainda: nos últimos anos, a contaminação da água cresce considerável e consistentemente. Em 2014, 75% dos testes em municípios brasileiros dectectaram a presença de agrotóxicos na água. No ano seguinte já chegou a 84% e, em 2016, a 88%. Já em 2017, último ano considerado na investigação, o percentual havia alcançado 92%, o que indica, dizem os investigadores, a possibilidade de ser difícil, dentro de alguns anos, encontrar água não contaminada nas torneiras do país.
Questionado, o Ministério da Saúde explicou que a exposição aos agrotóxicos pode ter efeitos nocivos, tais como “puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias”.

Mas se a gravidade do problema é reconhecida, as ações de controle ainda são precárias, uma vez que medidas só são tomadas quando o resultado do teste ultrapassa o máximo permitido em lei. E no Brasil não há um limite legal fixado para regular a mistura de substâncias, mas apenas a presença de elementos de forma isolada, individualizada.

Dessa forma, enquanto a União Europeia, por exemplo, permite no máximo 0,5 microgramas de agrotóxicos em cada litro de água, no Brasil o valor pode chegar a 1.353 microgramas por litro e o valor ainda pode ser considerado dentro dos limites legais, mesmo equivalente a 2.706 vezes o limite europeu.

Sanepar contesta dados e pede explicações ao Ministério
Procuparada pelo Bem Paraná, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), responsável por garantir a qualidade da água distribuída à população em 345 municípios paranaenses, afirmou por meio de nota que segue rigorosamente a legislação brasileira, informando ainda não ter detectado a presença de agrotóxicos acima do Valor Máximo Permitido (VMP) pelo Ministério da Saúde em nenhuma análise.

Ainda segundo a Sanepar, as matérias que utilizam informações do Sisagua estão incompletas. “No momento de registrar os resultados de suas análises, não há no cadastro do Sisagua a opção de informar a não detecção do princípio ativo do composto. O Sistema de Informação aceita apenas o registro como “no limite” em vez de “ausente”. Desta forma, fica registrada a presença de agrotóxico na água, mesmo que não tenha sido detectada, distorcendo a informação”, argumenta a companhia.

A empresa de economia mista também informou que está pedindo esclarecimentos ao Ministério da Saúde sobre os valores disponibilizados com relação à presença de agrotóxicos na água usada para consumo humano, para “não ocorrer interpretação equivocada como ocorreu no material divulgado”, em referência à investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e Public Eye.

Paraná é campeão de intoxicações por agrotóxico agrícola
Segundo informações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde, o Paraná é a unidade da federação com maior número de internações hospitalares decorrente de intoxicação por agrotóxico agrícola. Entre 2007 e 2017 (último ano com dados disponíveis), foram registradas 6.861 ocorrências no Paraná, ao passo que o segundo estado com mais registros é São Paulo, com 5.711. Em todo o país, foram 41.612 internações no período analisado.

A situação, aliado às revelações feita pela investigação conjunta sobre agrotóxicos na água, levou o deputado estadual Goura (PDT) a protestar durante a sessão de ontem na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). “Os níveis (da presença de agrotóxicos em Curitiba) não ultrapassaram os limites do Ministério da Saúde, mas essa exposição preocupa, sim. Porque o Brasil tem níveis até 5 mil vezes maiores do que Europa ou Estados Unidos? Será que o brasileiro tolera mais veneno do que os europeus?”, questionou o parlamentar,

Goura ainda apresentou requerimento à Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente e à Secretaria da Agricultura “para que possamos trabalhar com menos defensivos agrícolas, menos agrotóxicos”. A proposta foi também assinada pelo deputado Michele Caputo Neto, que é farmacêutico e foi secretário de saúde do Paraná entre 2011 e 2018. “Eu assino esses requerimentos todos porque é necessário aprofundar tudo isso que foi dito. Uma coisa é identificar isso (agrotóxicos e outros resíduos) na água, e outra é na água que vai direto para o consumo”, alegou.

[Fonte: Bem Paraná]

Saiba mais aqui: “Coquetel” com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios – Consulte o seu.  

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