A chegada do irmãozinho: tem um intruso aqui

A chegada do irmãozinho: tem um intruso aqui

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     O segundo filho costuma causar uma série de sensações em toda a família. As mudanças, as expectativas em torno do novo morador da casa, a angústia por não saber exatamente como o irmão mais velho vai se comportar, sem falar no “trabalho” a ser feito durante a gravidez para explicar para a criança de uma forma amorosa e sem traumas que ela ganhará alguém para dividir seu mundo: papai e mamãe.

     Eu vivi isso de uma forma muito intensa. Até 2 anos e 7 meses Eduardo reinou soberano em casa. Durante esse tempo, tudo era somente para si, na deliciosa arte de se adaptar à maternidade e experimentar esse novo mundo com o primeiro filho. A atenção, o colo, os diálogos, o peito, as brincadeiras, os presentes, mas sobretudo o tempo. Quando temos apenas um filho ele não precisa fazer nenhum esforço para que o tempo dos pais dedicado a ele seja somente dele. Repito: ele reina soberano!

     Eis que chega um irmãozinho. Um bebê menor que ele, que demanda atenção exclusiva dos pais, que não desgruda do peito, que está sempre no colo da mamãe e que ainda recebe mil visitas e presentes. Imagino a dificuldade que seja aceitar isso, sobretudo quando estamos falando de crianças pequenas. Se nós, adultos, em muitas circunstâncias não sabemos lidar com o fato de sermos “deixados de lado”, preteridos por outra pessoa, imagine isso na cabecinha e no coração de um bebê de pouco mais de dois anos.

     Dr. Fernando de Nóbrega, pediatra e especialista em vínculo mãe-bebê, me disse uma coisa muito certa sobre essa questão: “quando nasce o segundo filho nasce também um competidor. O irmão mais velho o enxerga como um oponente e, por isso, o primogênito se arma como um revolucionário para conseguir aquilo que ele deseja”. Claro que isso é uma metáfora, mas faz muito sentido se pensarmos que nessa nova configuração familiar, o ex-filho único tenha que conquistar o que antes não precisa fazer o menor esforço.

    E essa relação pode ser muito perigosa se os pais e família como um todo não estarem atentos a isso, sob o risco do filho mais velho levar isso tão a sério a ponto de realmente haver uma competição excessiva com o bebê. E ele não vai poupar táticas e meios para reivindicar a atenção e o amor dos pais, que podem incluir sensações e atitudes negativas em relação ao irmãozinho. Quem nunca ouviu dizer ou mesmo presenciou em casa o bebê dormindo no berço e o mais velho indo lá e dando um beliscão?

     Uma das melhores formas para lidar com a situação, segundo Dr. Nóbrega, é – além de conversar muito com o mais velho desde a gestação – inseri-lo no processo. Fazer com que ele participe da situação, que se sinta fazendo parte é fundamental para que ele não veja o bebê como um inimigo. E essa participação pode ser prática mesmo, por exemplo pegando objetos, como fralda, lenços umedecidos ou algodão, mamadeira, se for o caso, para ajudar os pais nos cuidados com o pequeno.

     Conseguir fazer o primeiro se integrar à cena pode ser muito benéfico para todos, pois o recém-nascido também vai ter uma outra percepção do irmão, enxergando-o como um parceiro. Enfim, os benefícios são muitos e essa experiência é mais uma das delícias da maternidade. Mesmo não sendo uma experiência totalmente nova, ser mãe pela segunda vez traz sim os encantos das descobertas. Então, que possamos aproveitar isso, de coração, e colocando os dois filhos no lugar que eles devem ficar: bem embaixo das nossas asas.

     Palavra de Especialista

     A chegada do segundo filho

     Esta é uma situação que realmente “mexe” com o primeiro filho. Antes ele era sozinho, reinava e não tinha concorrentes. Agora com um irmão, a situação se modifica. Sabendo desta situação os pais e a família devem continuar a dar atenção ao primeiro e fazer com que desempenhe algum papel na atenção do segundo: “ajude a mamãe a levar o carrinho do irmãozinho”, “ele gosta muito de você, prepare o bercinho” e outros afins. Melhora bastante quando o primeiro filho se vê participando da vida do segundo. Ele se sentirá importante.

    Dr. Fernando José de Nóbrega, médico pediatra, especialista em vínculo e consultor da Natura.

Fonte: Coisa de Mãe

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