Disfarçar alimentos, inventar histórias e não esquentar com a sujeira: mães, chefs e nutricionistas dão dicas para vencer a resistência das crianças.
Desesperados para ver os filhos se alimentarem corretamente, muitos pais lançam mão de chantagens pouco corretas para conseguir emplacar algumas colheradas. Ameaças como “se você não comer a salada, vai ficar sem videogame a semana toda” são pouco eficazes. Além de estabelecerem a alface como algo horrível e o videogame como algo incrível, elas podem gerar um estresse desnecessário entre adultos e crianças. O melhor é apostar em alguns truques práticos para fazer seu filho mudar de ideia em relação às comidas saudáveis.
O Delas conversou com alguns peritos em alimentação, de nutricionistas a chefs de cozinha, e reuniu 11 dicas eficazes para as crianças comerem melhor. Com paciência, bom-humor e criatividade, você pode mudar o jogo a seu favor e acabar com o sofrimento da hora das refeições. Confira abaixo.
1. Capriche na apresentação do prato
As crianças comem, sim, com os olhos. Para Andrea França, diretora da MiniChefs – Escola de Culinária Infantil, de São Paulo, um prato bem decorado e colorido faz toda a diferença. “É uma coisa simples de ser feita: desde colocar mais cores, que é resultado de uma dieta equilibrada, até montar uma carinha com os alimentos”, diz. O brócolis pode virar um cabelinho, enquanto o tomate pode ser cortado em forma de boca.
O chef de cozinha experimental André Boccato adaptou o livro “Gastrokid – O Livro da Gastronomia Infantil” (Editora Gaia) para o Brasil e sugere o uso de forminhas ou cortadores com o formato de bichos. “Quando você desenha no prato, pode até colocar ingredientes que a criança nem conhece. Ela presta mais atenção no desenho. Ao servir a refeição diretamente da panela, a criança pode ter uma reação pior”, diz.
2. Invista em alimentos pequenos
A lógica é simples: alimentos em miniatura fazem com que as crianças sintam que aquilo foi feito só para ela. Segundo Andrea França, mini legumes ou folhas de rúcula “baby”, por exemplo, tendem a agradar bastante. Mas não necessariamente precisam ser alimentos em miniatura. Ovinhos de codorna, por exemplo, também podem ser utilizados como incrementos, de acordo com a nutricionista da Consultoria e Assessoria Nutricional Duo Nutri, Fernanda Faria.
3. Evite bebidas durante a refeição
De acordo com a nutricionista Elaine de Pádua, especialista em alimentação na infância e adolescência e autora do livro “O que tem no prato do seu filho? Um guia prático de nutrição para os pais” (Editora Alles Trade), diminuir o volume de líquidos durante as refeições pode ser uma boa pedida. “Os líquidos ajudam a saciar a fome, ou dão a sensação de saciedade, ou seja, de estar satisfeito”, diz. Prefira oferecer água ou suco, portanto, somente depois do almoço ou da janta.
4. Ofereça primeiro o que ele menos gosta
A maioria das famílias costuma fazer o contrário, mas o melhor para a criança que não come verduras é tê-las à vista antes dos outros pratos da refeição. “Assim, ela estará com fome e pode consumir esta preparação mais facilmente”, afirma Elaine de Pádua.
5. Mantenha os alimentos saudáveis em lugares acessíveis
Elaine de Pádua recomenda manter as frutas expostas na cozinha, ou até já lavadas e cortadas na geladeira, prontas para serem alvos de uma criança faminta. A fórmula também pode funcionar para legumes, como cenouras e pepinos.
Estimular a criança a colocar a mão na massa pode fazê-la se alimentar melhor. A neta do chef André Boccato é um exemplo: aos cinco anos, o avô a levou para fazer massa fresca e preparar um saboroso prato de macarrão. “Antes disso, ela não comia molho de tomate. Depois dessa refeição, passou a gostar”, conta o chef.
7. Envolva a criança na escolha do cardápio da semana
De acordo com Betty Kövesi Mathias, coordenadora e professora da Escola Wilma Kövesi de Cozinha e Gastronomia, em São Paulo, a diversão é a isca perfeita para envolver uma criança em qualquer assunto. Na alimentação, vale o mesmo princípio. Conte com a ajuda dela para montar o cardápio da semana. Peça a ela para escolher um prato e os pais escolhem outro. O mesmo vale para quando a família vai a um restaurante: a mãe pode sugerir que ela escolha o prato do filho e o filho escolhe o dela. “Mas sem ameaças. A pior coisa que pode ser feita é obrigar a criança a comer. Essa integração faz com que aquele momento seja saudável e a criança não se sente cobrada”, diz Andrea.
8. Fique tranquilo com a sujeira
A atriz Maria Paula é mãe de Maria Luiza, 6, e Felipe, 4. Ela acredita que o fato de ter amamentado os filhos no peito até as crianças completarem quase 2 anos de idade contribuiu para eles comerem muito bem, quase sem nenhuma restrição, inclusive de frutas, legumes e verduras. “As crianças são boas de garfo, assim como a mãe”, compara a ex-Casseta e Planeta. “Não é piada não, é exemplo. Eu mudei a minha alimentação depois que a Maria Luiza nasceu, porque sabia que ela não iria comer certinho se eu não fizesse o mesmo”, completa. “Passei a tomar café da manhã, por exemplo, coisa que nunca tinha feito”.
Além da amamentação e do exemplo, Maria Paula revela outro segredo para fazer com que seus filhos nunca tenham torcido o nariz para brócolis, alface, aspargos e abacate. “Sempre incentivei que eles descobrissem os sabores, as texturas por conta própria”, diz. “Então, não ficava encanada com sujeira. No início, eles podiam comer com as mãos para descobrir o que era aquilo. Quando queriam, tentavam sozinhos usar os talheres e sempre atendiam as suas curiosidades gastronômicas. Para mim e para eles, deu super certo”, garante.
9. Leve seu filho ao mercado ou faça uma hortinha em casa
Levar as crianças para as compras do mês também pode ser uma ótima ideia para envolvê-los com a alimentação. Segundo Betty Kövesi Mathias, aproximá-las dos alimentos faz com que elas fiquem mais curiosas e experimentem com maior facilidade. Se o seu filho transforma as compras em uma guerra sem fim por cada guloseima dos corredores, outra alternativa é fazer uma hortinha em casa, ou mesmo cultivar pequenos vasos de tempero. “Além de facilitarem a culinária, ampliam o repertório de alimentos da família”, diz Elaine.
10. Transforme o ato de comer em uma brincadeira
A chef e doceira Carole Crema, proprietária da La Vie em Douce, em São Paulo, e mãe de duas meninas de cinco e seis anos, Luiza e Beatriz, segue esta premissa sempre que necessário. Quando as filhas queriam que ela fizesse um doce de sobremesa, ela preparou gelatina e serviu com uma colher de creme de leite, frutas e três confeitozinhos para cada uma. “Fiz um prato lindo e aproveitei para fazer gracinha na hora. Disse, tirando a sobremesa da geladeira: ‘qual a mesa que pediu esta especialidade? A garçonete já está levando!’”, conta.
Por menor que pareça, o uso da imaginação empolga – e muito – as crianças. Usar referências que a criança conhece, como o espinafre do Popeye ou o prato favorito de outro personagem, pode fazer com que ela tenha uma identificação maior com o alimento. “O discurso que se refere ao mundo da fantasia da criança pode ser empregado de acordo com a idade e sempre vale a pena”, concorda Andrea França.
11. Varie os formatos
Elaine de Pádua sugere “disfarçar” os alimentos rejeitados em pratos diferentes. O truque pode ser o ponto de partida para a criança começar a mudar de ideia. Se ela não come beterraba, que tal acrescentar o tubérculo na massa e fazer panquecas cor-de-rosa? “Mas não pode virar uma rotina. É importante ela saber o que está comendo”, afirma a autora. A ideia é mostrar diferentes formas de um mesmo alimento, para ver se ela realmente não se interessa por ele.
FONTE: IG Delas