Mães e pais: precisamos conversar sobre o WhatsApp

Mães e pais: precisamos conversar sobre o WhatsApp

Há 7 anos, esse aplicativo adentrou em nossa vida digital e, de lá para cá, passou a ser uma opção imediata na criação de contatos, sendo inevitável que qualquer pessoa que o utilize seja colocada compulsoriamente em algum grupo ou seja criadora de um ela mesma, com a finalidade de ter notícias da família, conectar-se rapidamente com filhos, colegas de trabalho, grupos de amigos e, por que não, com os pais e as mães da mesma turma de seu(sua) filho(a) na escola.

A tecnologia facilita algumas relações, e ferramentas como o whatsapp permitem que grupos conversem de forma privada sobre os mais variados assuntos. No entanto, tais grupos possuem diferentes objetivos, e a clareza desses objetivos e limites é objeto da reflexão que propomos a seguir.

Como todo tema difícil, precisamos assumir o desafio de enfrentá-lo e entendemos que uma boa conversa e o esclarecimento de como a Escola vem interpretando o fenômeno “conversas entre pais nos grupos de whatsapp” se torna necessária e urgente.

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Em nossa escola, a maioria dos pais participa de grupos assim para trocar informações relacionadas ao dia a dia das crianças. Entendemos que esse canal ajuda muito a tratar rapidamente de assuntos corriqueiros que envolvem toda sorte de combinados, os quais podem vir a fortalecer as relações de convívio e permitem divulgar e promover programas culturais entre as crianças, bem como facilitam a organização de rodízios e caronas, comunicam festas e aniversários, divulgam ações comunitárias, alertam para adoecimentos contagiosos (e que já foram comunicados pelos pais e responsáveis à escola, ufa!), enfim, que, de fato, promovam uma aproximação e uma cultura colaborativa entre as famílias.

 

Esse é o aspecto que vemos como mais positivo desses grupos: ampliaram as rodas das portas da escola e incluíram aqueles que não dão conta de levar e buscar seus filhos todos os dias. Mas em que medida aparecem, também, temas que geram desconforto entre os participantes dos grupos de whatsapp, assuntos que promovem desavenças e interpretações precipitadas de fenômenos inerentes ao cotidiano escolar?

Vivemos muitas situações nas quais a escola é informada indiretamente sobre cenas do cotidiano distorcidas, parcialmente analisadas, com uma lupa sobre ações de crianças e/ou professores, nas quais, via de regra, há estigmatizações, prejulgamentos superficiais e, muitas vezes, deixando de lado o principal interessado em esclarecer qualquer ocorrido, a coitada da escola! À escola resta, nessas circunstâncias, realizar um conjunto de ações que visem comunicar e esclarecer encaminhamentos que deveriam fazer parte da confiança básica dos familiares em relação aos profissionais.

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Uma criança que agride não é, necessariamente, uma ameaça; um objeto que desaparece não é, necessariamente, resultado de um furto; um adulto que fica bravo não foi, obrigatoriamente, inadequado; uma frase tirada do contexto (coisa comum para uma criança que relata uma cena em casa) não quer dizer, literalmente, o que foi dito; uma família desorganizada temporariamente não deixa de amar e cuidar de seus filhos; uma provocação infantil não é sempre bullying. Precisamos ponderar, e quem pode fazer isso, com toda a propriedade, são os profissionais da escola escolhida pelas famílias para acolherem seus filhos!

Há também outras situações igualmente embaraçosas nas quais surgem desrespeito entre pais, mães, responsáveis, com escritas que acuam, constrangem, julgam ou reprimem condutas, nem sempre conhecidas devidamente. A expressão desses julgamentos efêmeros ganha concretude escrita, ao contrário das palavras orais que se esvaem e são esquecidas. Indisposições e eventualmente inimizades são criadas desnecessariamente.

E eis em cena algo que conversamos imensamente com nossos estudantes, sejam da EI, do F1, do F2 ou do Médio: determinadas conversas, determinados assuntos DEVEM ser tratados face a face, pessoalmente, mediados por olhar, tom de voz, gestos e com o equilíbrio necessário quando enfrentamos contendas comuns à vida na coletividade.

Ficamos, como comunidade de educadores, perplexos com a manifestação de falta de tolerância e de disponibilidade para o outro, o diferente, temas tão caros para a escola, valores que passamos anos a forjar na formação integral de nossos alunos e alunas.

Como disse Paula Sibilia, em recente palestra na escola, os muros e as paredes não são suficientes mais para cercearem e definirem os contextos, pois eles são invadidos por aqueles que lá não estão.

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Observamos situações nas quais mães e pais interferem na construção de responsabilidades próprias do estudante, pedindo aos pais dos colegas cópias das lições de casa que seus filhos não anotaram, conferindo orientações de estudos, revisando provas, comentando questões e consignas dos trabalhos, ações todas voltadas para resolver problemas que deveriam ser dos alunos. Ou seja: aos olhos da escola, retiram desafios fundamentais para seus filhos na busca de evitarem frustrações e situações que podem ser profundamente educativas para o futuro dos mesmos. Como irão esses jovens, tutorados pelos pais, assumir suas responsabilidades atuais e futuras se lhes roubamos a oportunidade de aprender?
 
Assim, assumimos, com todos os riscos aqui envolvidos, a tentativa de deixar-lhes recomendações para que os grupos de whatsapp entre pais e mães caminhem com tranquilidade, respeito mútuo e amabilidade frente a temas desafiadores:

Ponderar: é esperado que alguns pais se angustiem mais que outros frente a algumas situações. Assim, vale a experiência e os comentários de quem já viveu situações análogas e sempre pode contribuir. Forma-se, então, uma rede que se autorregula e se ajuda nos desafios esperados ao longo do crescimento num grupo de convívio escolar.

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Compreender: que os membros do grupo pensam de formas diferentes e têm distintos graus de intimidade, ou seja, lidam de forma mais ou menos reservada, a depender do assunto e da forma como ele é apresentado.

Endereçar: atuar no grupo de forma a dimensionar a necessidade de remeter à escola quando as questões precisam ser tratadas pela orientação e somente encontram razão de ser se abordadas na escola e pela escola.

 

Dialogar: lembrar sempre que o diálogo, seja em redes sociais ou pessoalmente, é uma via de mão dupla, em que cada um tem o direito de colocar suas ideias nos limites do direito do outro, cuidando da linguagem e demonstrando o respeito que todos merecemos.

E, para finalizar, entendemos que a reflexão e a transparência sobre os alcances dessa ferramenta como mediadora de temas complexos entre pais e escola tende a amadurecer na comunidade escolar.

Por Fernanda Flores

Fonte: Blog da Vila

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