Crianças comem mais quando estão estressadas

Crianças comem mais quando estão estressadas

Pesquisadores concluíram ainda que o comportamento não é natural, mas aprendido com a família

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Sabe aquele dia em que o seu filho estava triste e cabisbaixo por algum motivo e você lançou mão do chocolate preferido dele para tentar animá-lo? Atenção! Um estudo publicado no The American Journal of Clinical Nutrition sugere que crianças de 5 a 7 anos de idade tendem a comer mais em momentos de estresse e tristeza, em especial quando os pais já utilizaram alimentos como forma de recompensa ou prêmio. Os pesquisadores concluíram que esse comportamento não é natural e sim aprendido. O padrão costuma se repetir até a vida adulta.

Como foi feita a pesquisa

Para chegar a esse resultado, os cientistas fizeram um experimento, em que as crianças foram desafiadas a colorir uma imagem. Quem concluísse a tarefa ganharia um brinquedo no final. Os pequenos participantes foram separados em dois grupos e um deles não teve acesso aos lápis de cor necessários, o que gerou uma situação de estresse. Enquanto isso, o outro grupo conseguiu fazer o exercício tranquilamente.

Nesse momento, os pesquisadores analisaram o comportamento das crianças que não puderam completar a missão e, enfim, ganhar o prêmio: o grupo consumiu diferentes alimentos que estavam disponíveis na sala. Por outro lado, as que conseguiram pintar comeram menos. A característica ficou ainda mais evidente no caso dos filhos de pais que afirmaram já ter utilizado a comida como recompensa para as crianças.

Segundo Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo (SP),  em momentos de estresse, a criança tem dois comportamentos básicos: ou vai comer mais ou menos. “A maneira como nos sentimos em relação à vida muda a forma como buscamos o alimento. Não comemos apenas porque temos fome. Se fosse assim, os aspectos psicológicos e emocionais não interfeririam na busca ou na recusa de alimentos. Algumas pessoas quando passam por problemas perdem o apetite. Crianças também. Outras fazem o contrário: usam o alimento para se acalmar”, diz.

Atenção com suas atitudes em casa

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Para Regina Célia, psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR) e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, a atitude das crianças é um reflexo do que elas vivenciam dentro de casa. “Os filhos aprendem muito por observação. Tudo aquilo que os pais fazem é absorvido pela criança. É como uma esponja”, conclui.

Além de incorporar esse comportamento negativo dos pais, as crianças também podem ser incentivadas a agir dessa maneira. De acordo com Rita Calegari, elas não só aprendem por imitação, mas também quando os pais usam o alimento como uma forma de conforto. Atitudes como oferecer um chocolate quando o filho está triste ou um lanche gostoso se ele consegue uma nota alta na prova, por exemplo, incentivam uma relação distorcida com o alimento.

Caso não haja uma orientação que faça a criança mudar esse comportamento, ele pode chegar com força total na vida adulta e evoluir para problemas ainda mais graves. Na infância, ela come um doce para suportar a ansiedade. Além de continuar exagerando no alimento, o que pode levar a obesidade, mais tarde, o hábito pode ser substituído por outros, como o álcool ou o cigarro. Tudo em uma tentativa de contornar as emoções.

O que os pais podem fazer?

Para evitar que a situação chegue a esses extremos, é importante que os pais observem os filhos e fiquem atentos a mudanças. Assim, é possível investigar a causa o quanto antes para acabar com o problema. Fatores como a chegada de um irmão, a separação dos pais ou mudança de escola são algumas das situações que podem ser gatilhos para a alteração no comportamento alimentar infantil, de acordo com Rita Calegari. “Quando os pais conhecem bem como os filhos são naturalmente fica fácil perceber que algo está diferente. Assim, o assunto pode ser tratado com a ajuda de um pediatra ou psicólogo de confiança”, diz.

A psicóloga Regina Célia ressalta que a correria do dia a dia pode resultar na falta de tempo para conversas e diálogos dentro de casa. “Os pais precisam se sentar junto do filho para saber como foi o dia dele. É disso que o ser humano precisa: do reconhecimento e do amor do pai e da mãe sobre o que ele faz na vida”, explica.

As mudanças mais drásticas no cotidiano do seu filho não são as únicas a desencadear disfunções no comportamento. Muitas vezes, pequenas alterações podem despertar algum problema. “Pode passar despercebido porque foi algo que não parecia importante para os pais, ou até algo visto de uma maneira positiva pelos adultos, como a mudança do berço para a cama. São passos bons, mas a criança pode não responder bem”, alerta Rita.

Além das emoções

Se a relação distorcida com a comida persistir, outro ponto de atenção é a obesidade. “Em uma família em que o alimento é utilizado como prêmio, talvez seja difícil perceber o que está acontecendo”, alerta Rosana Tumas, endocrinologista pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.

“Para nós, brasileiros, a comida está relacionada ao afeto. Para as gerações mais antigas, a boa mãe é aquela cujo filho come bastante. É sinal de saúde. Isso impede a percepção e agrava o quadro”, lembra Rita Calegari. É difícil dizer não quando se trata de alimentação, mas lembre-se: a comida serve para nutrir. “Às vezes, a criança come o suficiente para aquilo que ela gasta de energia, mas a mãe sempre acha que o filho come pouco. A comida extrapola os fins nutricionais e invade a questão do afeto. Sem essa consciência, a mãe não consegue dizer não”, ressalta a psicóloga.

Fonte: Revista Crescer.

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