A escola como aliada da boa alimentação

A escola como aliada da boa alimentação

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Não é raro os pais afirmarem que os filhos se alimentam melhor na escola. Mas o que está por trás disso? Um fator muito simples: o exemplo do colega. Para nutricionista  Valéria Escobar Santos, do Colégio Joana D’arc (SP), a companhia dos amigos é um estímulo bastante positivo, pois a criança fica curiosa para provar o que o outro está comendo com tanto gosto. Mas não é só isso. “Na escola, fazer manha para comer, como ela acaba percebendo logo, não surte efeito”, diz. Tanto que, se a criança recusou a comida, a recomendação dos especialistas é que fique sem comer até a refeição seguinte. “Já recebi telefonema de uma mãe pedindo para cozinharmos salsicha, pois o filho dela só comia aquilo. Mas não cedi”, recorda a nutricionista.

Aos poucos, com muita paciência, ela garante que as crianças acabam provando de tudo um pouco. Em casa, a dica é fazer um prato colorido, servir porções pequenas (se ela quiser mais, vai pedir para repetir), oferecer o mesmo alimento de formas variadas e falar das propriedades dos nutrientes de um jeito que ela entenda e se interesse. Mas para saber se o filho está comendo bem na escola, o ideal é que a instituição disponibilize o cardápio (do mês ou da semana) com antecedência, para a família ficar a par da alimentação, e dê um feedback sobre o que e a quantidade que ela está comendo, seja pela agenda ou pessoalmente.

Esses, no entanto, não são os únicos fatores a observar com relação à refeição na escola, que vai muito além do cardápio. No caso dos berçários, é preciso que os funcionários, por exemplo, sejam orientados sobre a higienização dos utensílios e o descongelamento do leite materno. “Além de acolher os pais, que apresentam muitas dúvidas sobre nutrição infantil nessa fase”, explica a nutricionista Kennya Colletti, da Nutritip Consultoria e Assessoria em Nutrição (SP), que atende seis instituições de ensino da Grande São Paulo. Para saber se o seu filho está sendo alimentado adequadamente no período em que estiver na escola, ela recomenda que os pais fiquem atentos a alguns aspectos, como o local das refeições, que deve ser limpo, tranquilo e arejado. No berçário, o horário das refeições varia de acordo com a rotina e o período em que a criança permanece nele. Se já mamou ao acordar, antes de sair de casa, por exemplo, vai lanchar no meio da manhã. Mas, em geral, ela tem de ser alimentada a cada duas horas ou duas horas e meia.

O mesmo vale na educação infantil. A diferença é que, já crescidinhos, os alunos são incentivados a comer sozinhos. No ensino fundamental, a maioria das escolas oferece serviço de cantina. As que têm educação em período integral devem contar também com um refeitório. “Os cuidados com a disposição e a temperatura dos alimentos, nesse caso, devem ser tão rigorosos quanto os de um restaurante ou hospital”, alerta Valéria Escobar Santos.

Do conceito à prática

O ideal é que o cuidado com a alimentação saudável vá além da hora das refeições. O incentivo para a criação de bons hábitos alimentares deve ser multidisciplinar. Ao perceber o desperdício do peixe em uma das escolas que atende, a nutricionista Kennya desenvolveu um projeto sobre o tema. Na aula de ciências, as crianças estudam o fundo do mar, enquanto o alimento foi incluído no cardápio em diversas composições (assado, no patê, na torta etc.). Por último, ela promoveu um concurso, no qual filhos e pais tinham de ir a um pesqueiro: ganhou quem trouxe a foto com o maior peixe. Agora, o alimento é consumido pelos alunos ao menos uma vez por semana – e ninguém reclama mais.

As aulas de culinária, cada vez mais frequentes nos currículos escolares, também são importantes para as crianças conhecerem os alimentos. Pois no prato, já picado e cozido, nem sempre dá para diferenciar a textura e o gosto de cada um. E o assunto deve ser contemplado também em outras disciplinas, como na Escola de Educação Infantil EPCO (SP), em que os alunos aprenderam o nome das frutas na aula de inglês. “Cada um trouxe uma fruta diferente de casa para fazer e saborear uma salada de fruta (ou melhor, fruit salad) com os amigos”, conta a coordenadora pedagógica Maria Aparecida Correa.

Fazer uma horta, cantar músicas, assistir a vídeos e ler livros sobre o tema, sempre com uma abordagem divertida, também são recursos bastante utilizados nas escolas. “Ainda  assim, os pais não podem achar que a instituição de ensino vai resolver sozinha os problemas nutricionais das crianças”, avisa Maria Aparecida. Por isso, vale a pena trazer os ensinamentos dos educadores e nutricionistas para dentro de casa, cozinhar junto com o filho e fazer as refeições em família, na medida do possível. “É preciso lembrar que, desde cedo, a alimentação envolve a afetividade. A mãe, afinal, forneceu o primeiro alimento do bebê”, completa.

Fonte: Revista Crescer.

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