Crianças e o aprendizado da fala

Crianças e o aprendizado da fala

 

Entenda porque algumas crianças demoram para começar a falar

Identificar e classificar os sons recebidos faz parte do processo

 

Sabemos que o desenvolvimento global de uma criança depende tanto de fatores biológicos como ambientais, que vão determinar seu aprendizado e, consequentemente, quando a criança vai ensaiar as primeiras palavras. Os fatores biológicos englobam as condições físicas, o estado de saúde e as funções intelectuais, que podem ser separados dessa forma:

  • Condições físicas: formação corpórea do indivíduo
  • Saúde: perfeito funcionamento do organismo
  • Funções intelectuais: representada pela capacidade de perceber, memorizar, discriminar e captar significado.

Já os fatores ambientais englobam as condições emocionais, modelos verbais e experiências. Pode ser classificado assim:

  • Condições emocionais: situações distensas e segurança afetiva
  • Modelos verbais: linguagem usada no meio ambiente
  • Experiências: situações vivenciais proporcionadas pelo ambiente.

A audição é o processo inicial para a aquisição de uma língua – é por meio dela que a criança tem o primeiro contato com os sons que os seus pais produzem, aprendendo que eles existem, tendo um feedback das suas próprias produções e selecionando-os. Então, se acontece alguma falha processo de ouvir, esse fato pode levar o indivíduo a falar, ler ou escrever inadequadamente. A audição é, então, uma função sensorial que nos permite receber e reagir diante de sons ou, ainda, é o sentido por meio do qual se percebem os sons.

Para que o indivíduo receba e analise os sons, ele possui em seu organismo um conjunto de estruturas denominado sistema auditivo. Dele fazem parte o órgão sensorial, as vias auditivas do sistema nervoso e as estruturas cerebrais, que participam na recepção, análise e interpretação das informações recebidas via audição. Todas essas análises e interpretações fazem parte do processamento auditivo, que se refere à série de processos que se sucedem no tempo e que permitem que um indivíduo realize análises acústicas e metacognitivas dos sons (PEREIRA e CAVADAS, 1998).

Enquanto o sistema auditivo periférico recebe e analisa os estímulos auditivos do meio ambiente, o sistema auditivo central e o cérebro analisam as representações internas desses estímulos acústicos e uma resposta é programada pelo indivíduo. Sendo assim, os processos auditivos centrais são os mecanismos e processos do sistema auditivo responsáveis pela localização e lateralização do som, discriminação auditiva, reconhecimento de padrões auditivos, aspectos temporais da audição (resolução, mascaramento, integração e ordenação temporal), performance auditiva com sinais acústicos competitivos e performance auditiva com sinais acústicos degradados (PEREIRA e CAVADAS,1998).

Desta forma, “o processamento auditivo é um conjunto de habilidades específicas das quais o indivíduo depende para interpretar o que ouve. Tais habilidades são mediadas pelos centros auditivos localizados no tronco encefálico e no cérebro” (ALVAREZ et al., 2000), e podem ser dividas em:

  • Atenção: é a capacidade de selecionar estímulos, isto é, focar-se em um determinado estímulo sonoro em meio a outros sons competitivos auditivos e visuais, sendo imprescindível para a seleção de determinados estímulos em detrimento de outros;
  • Detecção: é a identificação da presença do som, demonstrando a capacidade de acuidade auditiva;
  • Sensação sonora: é o recebimento do estímulo sonoro via audição, sendo a partir desta que se percebe se um som é alto ou baixo, grosso ou fino, forte ou fraco, longo ou curto (intensidade, frequência, duração);
  • Discriminação: está relacionada à capacidade de distinguir as características que diferenciam os sons da fala;
  • Localização sonora: é a capacidade de identificar o local de origem do som;
  • Memória auditiva: se refere à habilidade de associar o estímulo sonoro a outras informações já armazenadas de acordo com as regras da língua, refletindo na capacidade de receber, analisar e dar significado aos fragmentos de informação auditiva;
  • Figura/fundo: habilidade de identificar corretamente um evento sonoro previamente conhecido, sendo um processo totalmente aprendido;
  • Análise/síntese: permite a integração de informações auditivas com informações de outras entradas sensoriais e a utilização da informação de maneira rápida e eficiente.

Todos esses fatores devem ser analisados para entender porque uma criança está demorando para começar a falar, ou tem problemas com a fala. Observar esses pontos pode ajudar os pais a diagnosticar possíveis problemas precocemente, buscando tratamento adequado.

Solange Dorfman Knijnik
FONOAUDIÓLOGA – CRFA 4348/SP

Fonte: Uol (Minha vida)

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